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VÍDEO: o balanço dos dois meses de pandemia em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Na última segunda-feira, completaram-se dois meses da publicação do primeiro decreto municipal - de suspensão das aulas da rede municipal - com medidas de prevenção ao novo coronavírus em Santa Maria. De lá para cá, diversas outras ações foram realizadas, nas esferas públicas e privadas, e a rede hospitalar conseguiu se organizar para o enfrentamento da pandemia, com abertura de mais leitos.

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As medidas de distanciamento fizeram com que Santa Maria tenha um número de casos de coronavírus abaixo do registrado por outras cidades do mesmo porte no Estado e no país. Porém, já foram registradas as primeiras mortes pela Covid-19. Por outro lado, os reflexos também são graves na economia de Santa Maria, com fechamento de empresas, queda de até 50% nas vendas e estimativas de mais de 5 mil empregos cortados só aqui na cidade, além projeção de queda recorde do PIB no país, de mais de 5%.

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Nas últimas semanas, o número de casos da Covid-19 aumentou em Santa Maria - atualmente são 125 confirmações, sendo dois óbitos e 20 pacientes curados - o que pode ser justificado, na visão do prefeito Jorge Pozzobom, pela ampliação do diagnóstico que está sendo realizado no município:

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- Aumentou porque estamos testando mais. Não é culpa do comércio, como muitos estão dizendo. Outra coisa que tem influenciado bastante é o fato das pessoas não estarem usando máscaras, que estão se aglomerando e estão indo em praças. Nós estamos fazendo a nossa parte. Temos problema de irresponsabilidade das pessoas que estão achando que não é nada. Eu não quero chegar ao ponto de ter que fechar parque, de ter que dar um toque de recolher. Mas se for necessário, nós tomaremos medidas mais rígidas.

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Para Pozzobom, as medidas tomadas nos primeiros 30 dias de isolamento, com mais restrições nas atividades, foram essenciais.

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- Hoje, estamos numa situação confortável com relação aos hospitais, com o número de testes que temos para fazer e fazemos um monitoramento diário de tudo, sempre mantendo o diálogo com os setores e entidades, mostrando a importância de estarmos todos juntos.

O secretário de Saúde, Guilherme Ribas, ressalta o fato de que a maioria dos casos confirmados na cidade são de pessoas que apresentam a forma leve da doença, e que estão em isolamento domiciliar.

- As medidas tomadas naquele primeiro momento, foram ações para diminuir a circulação do vírus, para atingir um número menor de pessoas. Hoje (ontem) de tarde, no Hospital Universitário, por exemplo, tínhamos quatro pacientes na UTI Covid e dois nos leitos clínicos. A notificação dos casos suspeitos é o caminho certo para a gente diagnosticar e podermos tomar melhores atitudes para a população - disse.

O que dizem as entidades sobre os reflexos econômicos da pandemia

"Foram dois meses de muitas preocupações, dificuldades e aprendizados. No início, foi um grande temor apenas com a questão da saúde, mas hoje, estamos vendo que a questão econômica/social também é merecedora de enormes cuidados. Precisamos achar o equilíbrio entre os extremos de "ficar todos em casa" e "sair todos para a rua". Entendo não serem excludentes empresas abertas fazendo a economia girar e segurando empregos com as pessoas tomando todos os cuidados devidos e recomendados. O isolamento total é uma medida extremamente elitista, pois apenas uma pequena minoria tem condições de ficar em casa e ainda assim prover toda sua família dos itens mais básicos e necessários. Certamente, vamos passar por tudo isso em mais alguns meses, só espero que com o mínimo de perdas, mas maiores e melhores como sociedade." -  Luiz Fernando Pacheco, presidente da Cacism

"As últimas semanas foram difíceis. O balanço disso é refletido pelo impacto do fechamento do comércio em geral, com exceção dos supermercados e farmácias, considerados essenciais. Em relação aos empregados, o fechamento implicou em concessão de férias coletivas, suspensões de contrato, despedidas e fechamento de empresas. O comércio retornou as atividades, e o impacto acarretou em redução do horário e dias de aberturas das lojas. A mudança na rotina diária dos trabalhadores e trabalhadoras está causando vários transtornos. O fechamento de creches causa transtornos aos pais comerciários. Outra situação em relação aos empregados que exigiu adaptação é a que abrange a utilização do transporte público devido às restrições de horário. Alguns setores do comércio realmente precisam se reinventar para passar por esse período. Outros não sofreram o mesmo impacto. As empresas que vendem bebidas, gêneros alimentícios, materiais de construção, materiais de limpeza, vendas de equipamentos de proteção, se adaptaram à nova realidade e continuam vendendo. Algumas empresas estão aproveitando o período para mudar a forma de gestão como forma de prevenção. Por sua vez, o comércio lojista está batalhando para vender os produtos. Muitas empresas utilizaram a redução de horário e de salário como uma das alternativas para não rescindir contratos e tentar dar continuidade à atividade. O Sindicato recebeu em torno de 280 empresas que comunicaram alterações nos contratos de trabalho dos empregados. Há impacto psicólogo a todos os trabalhadores, pelo medo da contaminação, mesmo nas situações que as empresas e empregados estejam unidos para evitar a proliferação do vírus, algumas situações de desrespeito dos clientes que implicam em aglomeração em algumas lojas, geram receio de contaminação, sem que o empregado tenha culpa, colocando o empregador em "saia justa" com o cliente, a quem tem obrigação de corrigir. Nos últimos dois feriados, trabalhamos para permitir a abertura dos estabelecimentos visando aumentar as vendas, porque nesse momento de restrição de horário de abertura é uma alternativa que ajuda. A campanha Por Todos nós, do Diário de Santa Maria, está sendo importante na retomada das atividades. Por fim, é importante que a sociedade veja que até o momento não houve divulgação se tivemos comerciários infectados. Estamos acompanhando os comerciários e não tivemos notícias de contaminados no local de trabalho. Portanto, os empregados no comércio estão preparados para vender. Os cuidados para evitar a proliferação do vírus devem ser adotados por todos." -  Rogério Reis, presidente do Sindicato dos Comerciários

"Nesses 60 dias, a CDL não parou totalmente em nenhum momento. Ficou fechada para serviços externos, trabalhando internamente, dando assistência para os sócios, atendendo telefonemas. Alguns da equipe trabalharam em home office, outros tiraram férias antecipadas. Mesmo com todos os impactos econômicos da pandemia, o balanço real da CDL é positivo. Não fizemos nenhuma demissão, estamos com toda equipe trabalhando, cumprindo distanciamento e medidas de prevenção, nosso espaço é bem amplo e permite isso. Posso dizer que financeiramente a CDL está se mantendo com suas próprias economias e atendendo todos os serviços e clientes e trabalhando como uma empresa normal. O movimento está mais acanhado, obviamente, mas estamos nos mantendo muito bem dentro desse novo normal, desse cenário atual. Não precisamos acessar outros recursos econômicos para manter o pagamento de salário dos nossos 20 funcionários. A diretoria é voluntária mas a equipe precisa sobreviver dali. Nós também estendemos os horários e trabalhando aos sábados pela manhã. A equipe CDL abraçou e entendeu a situação. Precisamos manter alguns funcionários trabalhando, enquanto os demais estavam em casa. Até o momento está tudo dando certo." - Marli Rigo, presidente da CDL

"As vendas dos últimos dois meses foram muito abaixo do normal. Em média, 50% abaixo do que era antes da pandemia. A crise afetou todos os setores, por isso fica difícil para o comércio se restabelecer. Se nosso setor não funcionar, quem vai girar a economia? O comércio depende de outros setores e, se outros setores não estão funcionando direito, o comércio consequentemente será afetado. A doença existe e é perigosa, mas sabemos de todos os cuidados que devemos tomar. Eu acho que quem pode ficar em casa, que fique. Mas quem deve sair para trabalhar, é só se prevenir. O importante agora é afinarmos os discursos. Todos receberam as orientações de prevenção. Cada um fazendo a sua parte e com todos os setores entrando em harmonia, a gente pode criar um canal que flua bem para todos. Ter empatia nesse momento é essencial. Empatia e ver como o outro setor esta se comunicando. Se todos conseguirem isso, os efeitos da crise vão amenizar. Tem gente nas ruas, mas lojas ainda não estão cheias. O problema não está na falta de orientação, mas sim em focar nos cuidados com a população." -  Ademir José da Costa, presidente do Sindilojas

"O período de isolamento causou impactos e não tem como prever quando isso tudo vai acabar. É evidente que o inverno possa afetar e agravar o problema. Quando chegar a primavera, a tendência é que isso melhore, e consequentemente melhora pra economia também. Mesmo assim não tem como ter certeza, pois é necessário um tratamento efetivo com medicamentos ou vacina. Só assim para ter certeza de um controle. O consumidor vai consumir se tiver segurança e pra isso basta ter segurança sanitária. Setores que tiveram acréscimo em faturamento foram farmácias mercados e similares, principalmente nas épocas em que se fizeram estoques em casa. Na economia, para ela fluir, tudo tem que ter uma sinergia. Não adianta ter uma produção se não tiver, na ponta, o comerciante que venda este produto. Funciona assim com qualquer setor. Todos os setores tiveram problemas. O cenário foi de muitas incertezas, de não saber nem os riscos que se correm. Consumidor e lojistas deverão ter uma nova etiqueta sanitária para que se tenha uma nova etiqueta financeira. E somente ambientes favoráveis poderão inibir o contagio. Nada impede de ter os serviços disponíveis, só se deve ter os serviços funcionando com etiqueta sanitária. O coronavírus veio para dizer para a sociedade que ela pode fazer tudo que quiser fazer, mas que é necessário ter cuidados em todos os sentidos. Nas últimas semanas, a gente viu que as empresas passaram a vender também por e-commerce, como forma de se recuperar ou aumentar as vendas. E isto segue acontecendo. É uma tendência que já estava prevista, mas que a pandemia acelerou o processo de implementação" -  Alexandre Reis, economista

DISTANCIAMENTO E HIGIENE
Especialistas ouvidos pelo Diário avaliam também a doença e as medidas. Para o professor do departamento de Saúde Coletiva da UFSM e médico epidemiologista do município, Marcos Lobato, toda a população precisa estar atenta às recomendações anda em vigência e, claro, permanecer em casa sempre que possível.

- Eu acho que está sendo feito o possível e que, a partir de agora, deveremos ficar mais atentos. Está mais na responsabilidade das pessoas do que do poder público. Quando o poder público deixa de fazer controle, ele espera que os indivíduos se portem mais adequadamente, e quando não conseguem, daí o poder público vai ter que agir - comenta.

O presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia, o médico Alexandre Schwarzbold, avalia como positiva a situação até o momento.

- A transmissão viral é controlada, mas ela não é um número que permita que as pessoas deixem de fazer o isolamento social. Isso permite, por exemplo, a estratégia do Estado de distanciamento controlado, mas não permite voltar tudo e abrir certas atividades econômicas com maiores riscos de aglomeração - destaca.

Para ele, assim como é importante ficar atento ao avanço dos casos, é fundamental monitorar a taxa de ocupação de leitos. Além disso, para manter o isolamento controlado, as medidas de higiene e sanitárias devem ser aderidas para auxiliar a manter a taxa de transmissão no nível atual.

- Seria uma previsão bastante otimista. A minha preocupação é uma abertura um pouco desordenada nesse afã de retomar a economia. Acho que poderia melhorar a rapidez da notificação, para podermos fazer uma projeção local e conseguirmos ter um detalhamento da nossa própria região - diz.

A infectologista Jane Costa avalia que a situação está sob controle na cidade:

- As coisas estão andando bem, a saúde se organizou, a população se organizou, salvo algumas exceções, estão se comportando bem. Os casos estão aumentando, isso já era esperado. Calma, vai aumentar, mas temos leitos. Tem bastante leito clínico livre.

Jane ressalta que agora, o mais importante ainda é manter as medidas de distanciamento social e higiene.

- Tem de evitar a chegada de pessoas de fora. Pessoas daqui têm de evitar visitar cidades onde há muitos casos e evitar visitar parentes em cidades menores, do Interior. Isso evita de levar o vírus para cidades onde não tem estrutura nenhuma. Agora, vai fazer 15 dias do Dia das Mães, e muita gente foi visitar as mães no Interior. Isso pode ter repercussão (de aumento dos casos) - afirma.

Por outro lado, a médica declara que, dentro da realidade atual, é possível que as pessoas voltem a consumir e a ter uma rotina um pouco mais "normal".

- A cidade está controlada, ela tem de começar a girar. As pessoas têm de começar a se movimentar dentro da cidade. Voltar ao normal não como era antes, mas ao normal controlado. Tem de girar a economia, os restaurantes começar a funcionar, e as pessoas têm de ter cuidado de evitar aglomeração, manter o distanciamento de dois metros, usar máscara e higienizar as mãos. O distanciamento ainda é a melhor atitude, além da higienização e uso de máscaras. Isso é passível de mudança. É uma situação dinâmica. Qualquer coisa que aconteça, a gente se reúne e para de novo - diz Jane.

ESTRUTURA
O administrador do Hospital Casa de Saúde, Rogério Carvalho, avalia esse período como fundamental para que os profissionais de saúde se preparassem para enfrentar algo totalmente desconhecido:

- O isolamento social trouxe tempo maior para nos organizarmos de forma bem mais profissional para uma doença extremamente nova, que até hoje não temos toda a certeza do potencial que se tem no agravo dos pacientes. Claro que causa tensão muito grande, não só na força de trabalho que está na linha de frente. É uma logística muito intensa, mas Santa Maria se organizou muito bem para enfrentar a pandemia, de forma muito articulada.

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